lana caprina

Wednesday, August 31, 2005

Começos... (23)

ANDROMAQUE:
La guerre de Troie n'aura pas lieu, Cassandre!
CASSANDRE:
Je te tiens un pari, Andromaque.
ANDROMAQUE:
Cet envoyé des Grecs a raison. On va bien le recevoir. On va bien lui envelopper sa petite Hélène, et on la lui rendra.
CASSANDRE:
On va le recevoir grossièrement. On ne lui rendra pas Hélène. Et la guerre de Troie aura lieu.
ANDROMAQUE:
Oui, si Hector n'était pas lá!... Mais il arrive, Cassandre, il arrive! Tu entends assez ses trompettes... En cette minute, il entre dans la ville, victorieux. Je pense qu'il aura son mot à dire. Quand il est parti, voilá trois mois, il m'a juré que cette guerre était la dernière.
CASSANDRE:
C'était la dernière. La suivante l'attend.

JEAN GIRAUDOUX, La guerre de Troie n'aura pas lieu [1935]

Labels:

Sunday, August 28, 2005

Galeria (12)

Hans Scholl (1918-1943)

Labels:

Friday, August 26, 2005

Começos... (22)

To begin with I wish to disclaim the possession of those high gifts of imagination and expression which would have enabled my pen to create for the reader the personality of the man who called himself, after the Russian custom, Cyril son of Isidor—Kirylo Sidorovitch—Razumov.
If I have ever had these gifts in any sort of living form they have been smothered out of existence a long time ago under a wilderness of words. Words, as is well known, are the great foes of reality. I have been for many years a teacher of languages. It is an occupation which at length becomes fatal to whatever share of imagination, observation, and insight an ordinary person may be heir to. To a teacher of languages there comes a time when the world is but a place of many words and man appears a mere talking animal not much more wonderful than a parrot.

JOSEPH CONRAD, Under Western Eyes [1910]

Labels:

Galeria (11)


Sophie Magdalene Scholl (1921-1943)

Labels:

Monday, August 22, 2005

«A paisagem é um estado de alma»

As cheias cobriram de água os olhos dos camponeses. Perdidas as margens, o rio fez-se mar - mar de aflições.
Mas ali do Mirante, sobranceiro à casa do Gaitinhas, a gente que veio da cidade, em automóveis, não via angústias, nem olhos rasos de água. Assentou binóculos sobre a lezíria, e as lentes aproximaram telhados de casas submersas, telheiros desmantelados, copas esguias de choupos como dedos de náufrago. Ao longe, dentro da capela bloqueada, a Senhora de Alcamé decerto bradava aos Céus.
- Que formidável espectáculo!
- E não querias tu vir...
- As águas ainda subirão mais? - perguntou alguém. Um homem daqueles sítios disse que sim. - O cabeço d'água é só depois de amanhã...
Ia-se a torre cimeira da capela. E o sino calado, impotente...
- Gostava de cá voltar, quando o rio estivesse mais cheio - confessou uma senhora que ouvira a resposta do homem.
O marido discordou. - Não vale a pena. Isto é sempre a mesma coisa...
Um bando de patos bravos alvoroçou olhares, formou nuvem que se alongava e sumia na neblina da manhã. No valado, que fora limite de margem e agora era carreiro sem destino, um renque de oliveiras emergia das águas, apenas, as copas glaucas.
- Olhem - disse uma voz juvenil -, aquelas oliveiras dão a impressão de que flutuam. E uma casita, além, meio afundada... Isto é triste, não é?
- Conforme... - retorquiu-lhe um rapaz magro, elegante. - Como disse Amiel, a paisagem é um estado de alma.
- Você, também, vê tudo com olhos de poeta.
- E porque não? Falta-nos agora o azul do rio: mas repare, temos ainda o azul do céu. E, quando a Primavera chegar, a alegria voltará aos campos cultivados.
Depois, virando-se para os companheiros, perguntou: - A propósito: vocês leram o artigo do Silveira? A explicação de que as cheias enriquecem as terras pareceu-me inteligente. Pena é que ele tenha um estilo tão fraco...
O caudal barrento do rio arrastava fardos de palha, animais e lágrimas. E o homem daqueles sítios, alheio às conversas, nada mais via do que luto à sua frente.
O klaxon de um automóvel repercutiu-se sobre a vila. Gente partia, outra chegava.
Agora era um senhor gordo, com máquina fotográfica a tiracolo, quem apreciava o panorama.
- Afinal, onde está a maravilha?
- É grandioso, há-de concordar.
- Ora, meu amigo. Isto é um lago, comparado com as inundações que eu vi na América. Aí, sim. Povoações arrasadas, campos totalmente devastados, centenas de mortos...
O amigo interrompeu a digressão. - Em todo o caso há prejuízos de milhares de contos...
- Sim, convenho que é um rombo, em lavoura pobre como a nossa.

SOEIRO PEREIRA GOMES, Esteiros [1941]

Friday, August 19, 2005

Para ler em voz alta (19)

Lines Written Among the Euganean Hills

Many a green isle needs must be
In the deep wide sea of Misery,
Or the mariner, worn and wan,
Never thus could voyage on -
Day and night, and night and day,
Drifting on his dreary way,
With the solid darkness black
Closing round his vessel's track:
Whilst above the sunless sky,
Big with clouds, hangs heavily,
And behind the tempest fleet
Hurries on with lightning feet,
He is ever drifted on
O'er the unreposing wave
To the haven of the grave.
What, if there no friends will greet;
What, if there no heart will meet
His with love's impatient beat;
Wander wheresoe'er he may,
Can he dream before that day
To find refuge from distress
In friendship's smile, in love's caress?
Then 'twill wreak him little woe
Whether such there be or no:
Senseless is the breast, and cold,
Which relenting love would fold;
Bloodless are the veins and chill
Which the pulse of pain did fill;
Every little living nerve
That from bitter words did swerve
Round the tortured lips and brow,
Are like sapless leaflets now
Frozen upon December's bough.

On the beach of a northern sea
Which tempests shake eternally,
As once the wretch there lay to sleep,
Lies a solitary heap,
One white skull and seven dry bones,
On the margin of the stones,
Where a few grey rushes stand,
Boundaries of the sea and land:
Nor is heard one voice of wail
But the sea-mews, as they sail
O'er the billows of the gale;
Or the whirlwind up and down
Howling, like a slaughtered town,
When a king in glory rides
Through the pomp and fratricides:
Those unburied bones around
There is many a mournful sound;
There is no lament for him,
Like a sunless vapour, dim,
Who once clothed with life and thought
What now moves nor murmurs not.

(...)

PERCY BYSSHE SHELLEY [1818]

Labels:

Thursday, August 18, 2005

Começos... (21)

J'étais, sans contredit, le plus grand fripon de toutes les Indes, et, de plus, valet d'un vieux gymnosophiste, qui, depuis cinquante ans, travaillait à se procurer une transmigration heureuse, et, par ses rudes pénitences, se changeait en squelette, dans ce monde, pour n'être point transformé en quelque vil animal, dans l'autre. Mais moi, m'endurcissant sur tout ce qui pourrait m'arriver, je faisais une exécution terrible sur tous les animaux qui me tombaient entre les mains. Il est vrai que je ne touchais point à quelques vieilles poules qui étaient dans la cour de mon maître, que j'épargnais quelques oies presque séxagenaires, et que j'avais grand soin d'une vieille vache ridée, qui me faisait enrager, car ele n'avait plus de dents pour paître, et il fallait presque que je la portasse, lorsque mon maître m'ordonnait de la mener promener.

MONTESQUIEU, Histoire véritable [ca.1730]

Labels:

Tuesday, August 16, 2005

Galeria (10)

Sir Allen Lane Williams (1902-1970)

Labels:

Tuesday, August 09, 2005

Para ler em voz alta (18)

Todesfuge

Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng

Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends
wir trinken und trinken
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen
Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland

dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamith

PAUL CELAN [1952]

Labels:

Thursday, August 04, 2005

O espanto perante a realidade (2)

O Bento não aparecia, ainda azafamado em iluminar condignamente as rexas da Torre. Gonçalo atirou a ponta do charuto, e com as mãos nas algibeiras do paletot, parou junto do miradouro, olhou vagamente para as estrelas. A névoa adelgaçara quase sumida - lumes mais vivos palpitavam no céu mais profundo. De lumes e céus descia essa sensação de infinidade, de eternidade, que penetra, como uma surpresa, nas almas desacostumadas da sua contemplação. Na alma de Gonçalo passou, muito fugidamente, o espanto dessas eternas imensidades sob que se agita, tão vaidosa da sua agitação, a rasteira, a sombria poeira humana. Longe, algum derradeiro foguete ainda lampejava, logo apagado na escuridão serena. As luzinhas sobre a capela de Veleda, sobre o arco de Santa Maria de Craquede, esmoreciam, já ralas. Todo o remoto rumor de musicatas se perdera, na mudez mais funda dos campos adormecidos. O dia de triunfo findava, breve como os luminares e os foguetes.

EÇA DE QUEIRÓS, A Ilustre Casa de Ramires [1894]

Labels: