lana caprina

Sunday, February 12, 2006

Lisboa com suas casas...


Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores ...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.

ÁLVARO DE CAMPOS [1934]

3 Comments:

  • At February 13, 2006 10:51 pm, Blogger José Borges said…

    Lisboa é tantas coisas!

    O cacilheiro

    Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
    comboio de Lisboa sobre a água:
    Cacilhas e Seixal, Montijo mais Barreiro.
    Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.

    Na Ponte passam carros e turistas
    iguais a todos que há no mundo inteiro,
    mas, embora mais caras, a Ponte não tem vistas
    como as dos peitoris do Cacilheiro.

    Leva namorados, marujos,
    soldados e trabalhadores,
    e parte dum cais
    que cheira a jornais,
    morangos e flores.
    Regressa contente,
    levou muita gente
    e nunca se cansa.
    Parece um barquinho
    lançado no Tejo
    por uma criança.

    Num carreirinho aberto pela espuma,
    la vai o Cacilheiro, Tejo à solta,
    e as ruas de Lisboa, sem ter pressa nenhuma,
    tiraram um bilhete de ida e volta.

    Alfama, Madragoa, Bairro Alto,
    tu cá-tu lá num barco de brincar.
    Metade de Lisboa à espera do asfalto,
    e já meia saudade a navegar.

    Leva namorados, marujos,
    soldados e trabalhadores,
    e parte dum cais
    que cheira a jornais,
    morangos e flores.
    Regressa contente,
    levou muita gente
    e nunca se cansa.
    Parece um barquinho
    lançado no Tejo
    por uma criança.

    Se um dia o Cacilheiro for embora,
    fica mais triste o coração da água,
    e o povo de Lisboa dirá, como quem chora,
    pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.

    Letra de Ary dos Santos
    Interpretada por Carlos do Carmo

     
  • At February 13, 2006 10:54 pm, Blogger José Borges said…

    E os dedos do Carlos Paredes a tocar Lisboa?

     
  • At February 14, 2006 3:49 pm, Anonymous Anonymous said…

    Conheço essa foto de algum lado... Ficou muito bem.

     

Post a Comment

<< Home